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Galeria Ruy Meira recebe exposição ‘Invertido’, de Henrique Montagne

Por Álvaro Frota (FCP)
16/11/2023 11h45 - Atualizada em em 18/11/2023 16h25

Encerrando a temporada de exposições do Prêmio Branco de Melo 2023, a Fundação Cultural do Pará receberá a mostra “Invertido” no dia 16 de novembro. O objetivo do artista Henrique Montagne é evidenciar a cultura queer a partir da sua vivência na periferia. A entrada é gratuita e o público poderá visitar as obras até o dia 19 de dezembro.

A mostra é composta por diversas linguagens artísticas, passando por desenho, pintura, colagem, vídeo e objetos que narram a trajetória coletiva de corpos LGBTQIA+. Na exposição, Montagne torna a imagem um gatilho estético e político contra a normatividade “moral” do patriarcado. O artista traz peças de cinema, quadrinhos, desenhos animados, imagens de revista e jornal, trazendo aspectos eróticos e homoafetivos entre homens e suas masculinidades.

"Henrique revisita os clichês sobre a masculinidade corrosiva, enquanto, paradoxalmente, agencia essa mesma masculinidade como fetiche para certas camadas das chamadas sexualidades dissidentes”, explica o pesquisador e professor do Instituto de Ciências da Arte da UFPA, Afonso Medeiros, que assina os textos críticos da mostra ao lado de Álvaro Seixas, doutor em Linguagens Visuais e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ. 

“Ser artista é como carregar imagens e informações que colecionamos desde a escola e que levamos de volta pra casa em mochilas pesadas, que continuam a caber muito, caminhando todo dia com o peso sob as costas”, afirma o artista.

Memória - Homossexual e nascido na periferia de Belém, Henrique Montagne parte da própria história para acessar uma memória coletiva da juventude LGBTQIA+ a partir dos anos 2000. Para isso, ele se volta ao universo lúdico da cultura pop, constitutiva de repertório imagético e formação identitária. Nas obras, o “quebra-cabeça” que constitui a psiqué queer tem como peças os Ursinhos Carinhosos, o Castelo Rá-tim-bum, filmes como Homem-Aranha e bonecos Max Steel que se beijam. 

“Como uma criança periférica e da Amazônia, eu sobrevivia de sonhos através da TV, dos filmes da locadora que meu pai alugava, uma forma de escapar da minha realidade. Lembro de ver apenas crianças brancas na TV, nenhuma com uma cor mais ‘morena’ ou com minhas feições mais miscigenadas. Elas estavam com suas famílias felizes e estáveis, reforçando um padrão sudestino de comercial de manteiga”, relembra Montagne.

Arte -  Em preto e branco, o desenho aparece como protagonista em “Invertido”, e se desdobra: Henrique resgata o estilo de sua letra na pré-adolescência, e faz da pontuação, tão própria da escrita, um instrumento para traçar os desenhos em preto e branco.

“O pontilhismo traz a ideia do desenho como um texto constituído de pontos finais, que não precisa ser falado, mas pode ser lido. Para escrever um texto é preciso do traço, da linha e de pontuações. No meu desenho é a mesma coisa”, disse Henrique.

Outro aspecto agudo nas obras são os olhos vazios dos homens desenhados por Montagne e o uso de tons monocromáticos. “Foi uma fuga que se tornou assinatura estética, para desassociar a arte queer do sempre colorido da bandeira LGBTQIA, que hoje se tornou um clichê para grandes corporações usufruírem de modo neoliberal determinados nichos. Nossas histórias não são tão coloridas assim, existe muito amor, mas também dor”, finalizou o artista.

Serviço

Mostra Invertido, de Henrique Montagne

Data: 16/11 a 19/12

Visitação: das 9h às 17h

Local: Galeria Ruy Meira, na Casa das Artes

Endereço: Rua Dom Alberto Gaudêncio Ramos, 236 - Nazaré

Entrada gratuita.