Nesta quarta-feira (9), o Cine Líbero Luxardo foi o cenário de uma noite especial com a estreia do filme “Pasárgada”, que marca a primeira experiência da atriz paraense e Dira Paes como diretora e roteirista. O longa, que já havia sido exibido no 52º Festival de Cinema de Gramado, onde conquistou o prêmio de Melhor Desenho de Som, foi apresentado em uma sessão lotada, com a presença de quase 100 espectadores. O evento contou com a participação de Dira Paes e da produtora executiva Eliane Ferreira, e foi seguido de um debate mediado pelo cineasta paraense Fernando Segtowick.
“Pasárgada” narra a história de Irene, uma ornitóloga solitária que, ao entrar na floresta amazônica, se reconecta com a natureza e com suas próprias questões internas. A trama se desenrola a partir do encontro entre Irene e Manuel, um jovem guia com habilidades peculiares, em um ambiente que destaca a potência da Amazônia como cenário e personagem.
Durante o debate, Paes refletiu sobre a escolha do título do filme, inspirado no poema de Manuel Bandeira. Para a diretora, “Pasárgada” representa mais do que um local físico, é um refúgio emocional. “A história da Irene é sobre buscar esse lugar dentro e fora de si mesma, onde ela possa se reconectar com suas raízes e encontrar respostas para os dilemas que carrega”, explicou.
Ela também destacou o processo criativo e as dificuldades de filmar na Amazônia, ressaltando a importância de retratar um ambiente tão vasto e muitas vezes mal compreendido. “A natureza em “Pasárgada” não é apenas um cenário, ela provoca e desafia os personagens, levando Irene a questionar seu papel como mulher, mãe e profissional”, detalhou. Paes ainda comentou sobre a xenofobia e o desconhecimento que muitas pessoas têm em relação à Amazônia. “É incrível que as pessoas achem que aqui a gente não funciona. A xenofobia é um retrato do não conhecimento”, afirmou.
A relação entre natureza e identidade é um dos pilares do filme. Segundo Paes, a presença de Manuel, um jovem que compreende a linguagem dos pássaros, serve como metáfora para a reconexão com o primitivo. “Quis trazer ao roteiro uma história de autodescoberta, em que a floresta amazônica e a essência feminina se entrelaçam e emergem como forças transformadoras”, completou.
Eliane Ferreira, produtora executiva do longa, também destacou a importância da parceria e do trabalho com a equipe para dar vida a uma história tão densa. "O som no filme é uma linguagem em si, traduzindo a comunicação não apenas entre os personagens, mas também com a natureza ao redor", ressaltou Ferreira.
Nádia Alves, gerente do Cine Líbero Luxardo, comentou sobre a relevância cultural da sessão em um momento especial para a cidade. “A presença da Dira Paes aqui em Belém, durante o período do Círio de Nazaré, foi uma oportunidade única para organizarmos essa sessão de debate. O Cine Líbero tem como missão democratizar o acesso ao cinema, e eventos como este reforçam nosso compromisso de abrir espaço para produções que fogem ao circuito comercial”, afirmou Alves.
Após a sessão, o público pôde trocar impressões sobre o filme e sobre o futuro da produção cinematográfica na Amazônia. “Pasárgada” entra em cartaz na programação regular do Cine Líbero Luxardo nas próximas semanas, oferecendo ao público a chance de vivenciar essa imersão no universo amazônico e nas questões humanas que permeiam a obra.