Em Travessia, como parte do projeto Acervo em Movimento, reunimos mais de dez artistas contemporâneas mulheres que, em diferentes tempos e linguagens, fazem de seu olhar sobre a arte um território em constante movimento. Caminhos que percorrem o íntimo e o coletivo, atos que convocam resistência e imagens que tecem memórias, desdobrando-se em novas histórias da arte regional, menos estáveis e mais plurais.

Há gestos que atravessam o tempo; marcados no papel, na paisagem e na lembrança. Fotografias, vídeos, objetos, pinturas e gravuras que compõem a mostra, não se limitam apenas a propor singularidades, mas de revelar o pensamento destas artistas, em que suas vivências e percepções da visualidade na Região Amazônica nos apresentam outros códigos de representação — políticos, poéticos e imagéticos. Obras que carregam o tempo vívido e em suspensão, que se instalam como vestígios de trajetórias inscritas ao longo dos anos e que seguem reverberando no agora.

Na obra Tecida, de Andressa Palhiana, somos conduzidos a uma relação entre memória e presente, entre ancestralidade e afeto. Esse mesmo olhar atento aos rastros da vivência e das paisagens perpassa também o trabalho de Paula Sampaio, em Rodovia Belém-Brasília. Por meio da fotografia, Sampaio registra as marcas da transformação do entorno amazônico, evidenciando histórias intersectadas por deslocamentos e permanências. Atravessando temporalidades diferentes, os trabalhos se cruzam na escuta atenta do que a paisagem guarda. 

O diálogo entre as distintas gerações destas artistas contemporâneas tem o significado político de reivindicar, com seus próprios modos de fazer e narrar, um espaço historicamente negado às mulheres, sobretudo àquelas cuja produção se inscreve fora dos grandes centros. A travessia se dá, então, sempre como um processo, nunca como ponto de chegada. São narrativas em curso, ou que continuam ecoando através de suas obras, compondo conexões entre períodos marcados por contiguidades e descontinuidades espaço-temporais.

Emily Guimarães