A GRAVURA E A CRIAÇÃO
Jean e Glauce aliam a sensibilidade na forma de criação, possuem, além do controle da alma, o controle total do corpo no ato rude de entalhar a madeira bruta ou a lâmina dura do metal.
Com esse domínio do corpo e da alma, este enlace acontece e os artistas têm colocado a gravura como um ato estético, original e autônomo, expressando o pessoal e o individual, entretanto a gravura de arte, logo de início, foi colocada como um sistema coletivo de produção e experimentação.
Seguindo esta premissa, os artistas atravessam este processo produtivo pelo desenho, xilogravura, gravura em metal, linóleo-gravura, serigrafia entre outras linguagens que se juntam, se aliam, se cruzam, se ajudam numa comunhão força em gestar e fazer nascer uma imagem. Juntos, os artistas se transformam numa pequena grande fábrica de reprodução de imagens.
Diários gráficos, Marajó, risca de rostos, rotas, ilhas, águas, rios, Bará, Salubá Nanã, “Wood Block Prints”, gravuras
profundamente entalhadas, buriladas, e relacionadas a religiosidade, falam de orixás, de mulheres e de mães. Imagens ampliadas na escala de grandeza. Aspectos são trabalhados juntos e isolados. Silêncio e barulho das ferramentas, dos gestos. Há, sem dúvida uma busca de balanceamento entre esses modos individuais e coletivos de forma que nenhum se torne mais importante que o outro. Glauce e Jean convivem numa harmonia dinâmica e em constante estado de devir: razão/emoção,
sensibilidade/inumanidade, força/fragilidade, timidez/coragem, homem/mulher... Dois artistas, com modos de pensar, sentir, agir experimentadas nas formas e desejos da gravura.
Nessa estrada de arte juntos, como num ato de impressão que implica cumplicidade, Glauce e Jean gravam riscos que ficam ali registrados para sempre, não têm volta. Afinal, descobrem histórias, desvelam imagens e deixam as marcas gravadas na
arte e na vida.
Vânia Leal
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