Entre Recortes e Memórias: 45 anos da Galeria Theodoro Braga
A palavra galeria vem do italiano galleria (1554), corredor subterrâneo; este do francês galerie (1316), átrio de igreja; e este, do latim galeria – possível corruptela de galilaea, átrio ou claustro de igreja (o que nos leva a Galiléia, região dos gentios, o povo pagão, oposta a Judéia, terra do povo eleito nas Escrituras); o átrio das igrejas era o lugar onde se espremia o povo a conversão.
Não é muito difícil aferir, através desse breve passeio por suas raízes dicionarescas, o que significa este espaço destinado a abrigar a produção artística contemporânea de uma comunidade, uma cidade, um país. É um lugar de passagem, tanto para os artistas quanto para as obras, e mais ainda para os visitantes que, frequentemente desavisados, apenas muito tardiamente podem se dar conta de estar num espaço de efemérides – apesar de sua aparência estática.
Quem visita uma galeria é convidado a remar nesse corredor subterrâneo, onde, entre possíveis conversões ao imaginário gentio dos artistas, pode repentinamente emergir desta profunda escuridão identificado, ressignificado, afetado por pulsões ulteriores da Cultura, da História, do inconsciente coletivo.
Ao celebrarmos os 45 anos da Galeria Theodoro Braga, nos damos conta de que são, de fato, Bodas de Rubi de uma união duradoura deste espaço dialógico e potente com a cidade de Belém e seus artistas, seu público. O rubi, esta joia cardinal cuja dureza, preciosidade e resistência se aproxima do diamante, representa bem em sua forma lapidada a maturidade política, estética e cultural da Galeria, comprovada em sua espacialidade uterina e germinal, sua feminilidade criativa e fertilizante, donde evolvem brilhantes carreiras de tantas pessoas que nela fecundaram suas proposições visuais. No mês da mulher, da luta por equanimidade e visibilidade do princípio feminino no mundo, reafirmamos a Galeria como a terra receptiva onde a exuberante Natureza Humana e Artística possa refulgir, renovando-se perenemente, em direção ao futuro.
Renato Torres