1 2 3 4

Ausências e Significações


Uma mostra do Prêmio Branco de Melo 2022

Uma obra de arte exposta na galeria nos sugere uma presença inquestionável: sua materialidade nos sinaliza a um só tempo um devir, e o marco monolítico de uma trajetória criativa que a gerou. Por outro lado, há essa imanência da qual suspeitamos - o ser humano por detrás de sua engenharia, que mormente nunca está presente - como fossem outras ausências sugeridas pelos espaços entre as obras. A convenção do cubo branco, aliás, é também um dado referencial para o pensamento que propomos com esta mostra, que reúne as obras doadas pelos/as artistas premiados/as no Edital Branco de Melo 2022.

O referido Prêmio chegou, neste ano, a um formato bastante sonhado pela equipe das galerias GTB/GBN/GRM: um recurso financeiro capaz de oportunizar exposições de arte contemporânea onde toda a carpintaria fosse controlada pelo próprio artista, na escolha de seus parceiros profissionais e colaboradores. O resultado, ainda que com imperfeições e ajustes necessários para o Edital 2023, foram 11 exposições, distribuídas entre as galerias Theodoro Braga, Benedito Nunes (Centur) e Ruy Meira (Casa das Artes), com excelente presença do público, em especial nas aberturas.

Como parte das políticas públicas estaduais voltadas ao fomento da cena das artes visuais, o Edital, naturalmente, é um recorte avalizado por escolhas feitas por uma comissão de seleção, ou seja: necessariamente pressupõe ausências, mais do que se pretende representativo do que há "de melhor" ou de "mais importante" na produção dos artistas inscritos (e aqui, é bom lembrar da ausência de tantos que, por uma razão ou outra, nem ao menos conseguiram se inscrever). Em suma, ter um projeto escolhido para financiamento com verba pública dentro de um Edital deste porte significa carregar uma imensa responsabilidade - o peso de tantas ausências. Ainda que isto nos pareça óbvio sob o prisma ético, ainda sentimos ser importante tocar neste ponto nevrálgico de maneira didática e dialógica, haja vista a imensa demanda de artistas que almejam - e necessitam - de tal subsídio. Em cada obra aqui exposta, o testemunho de um esforço que honra esses recursos gerados por todos nós, cidadãos, e que também apontam, na vacuidade silenciosa onde nossos olhares percorrem a atmosfera do espaço expositivo, o que significam essas ausências, e até que ponto cada um de nós está (ou não) implicado nelas. E ainda, por fim, o que faremos (queremos?) para que um dia estejamos presentes.

Renato Torres


Galeria: