ARRAIAL
“A Fundação passa então ser esse ‘Arraial’, palavra cujo significado básico é um povoado ou lugarejo; espaço designado a festas populares ou com conotação religiosa, romarias, etc. As iniciativas do passado construíram no imaginário da cultura paraense esse espaço, e a tradição de ser o Arraial da cidade de Belém, que movimenta diferentes linguagens e setores da FCP, reunindo a apresentação de inúmeras quadrilhas e grupos folclóricos em uma programação que vai além da competição, valorizando essa manifestação popular e empírica.”
(João Paulo do Amaral, texto curatorial da expo “Arraial”, junho de 2020)
Em plena terceira onda da Covid-19, pelo segundo ano consecutivo os tradicionais festejos da quadra junina da FCP operam em caráter extraordinário, impossibilitados os encontros multitudinários que são o próprio ethos da festa dos santos católicos São João, São Pedro e Santo Antônio. Sua espiritualidade celebrada aos cantos e gritos de alegria das quadrilhas, pássaros, bois e variados grupos folclóricos, contudo, permanece uma marca indelével desse período, reafirmado pelos forrós, xotes e temas quadrilheiros que povoam o ar das cidades brasileiras em junho, em especial no Norte e Nordeste.
Belém guarda exatamente na Fundação Cultural do Pará – antes Centur, mas ainda hoje referendada com esta alcunha – o espaço da apoteose junina do seu Arraial, que teve origem na própria criação do Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves em 1986, e em seus projetos mais representativos, como o histórico PREAMAR criado por João de Jesus Paes Loureiro, voltado à valorização da cultura ribeirinha e interiorana, imiscuída profundamente no modo de ser do belenense. A Cultura Amazônica, então, passa a ser a grande representatividade que caracteriza esse caboclo urbano, o indivíduo que vive na capital, mas segue cultivando seu pertencimento cultural através das manifestações juninas, entre outras.
Deste modo, e valendo-se do acervo riquíssimo do Núcleo de Oficinas Curro Velho, agregado a parte do acervo da FCP, as Galerias Theodoro Braga e Benedito Nunes apresentam a mostra “Arraial”, reafirmando o papel da FCP na salvaguarda da identidade cultural de nosso povo, materializada em estandartes, bonecos de papel machê e miriti, máscaras, pinturas, colagens, bois, gravuras, e oratórios, obras resultantes de oficinas, e que também são a memória viva dos arraiais passados, colorindo os espaços por ora silenciosos da Fundação com a esperança nos futuros arraiais.
Renato Torres
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