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GIRAÊ!
10 ANOS DE PERFORMANCE NEGRA

Carlos Vera Cruz – Kaialunde ia Nzambi

Corpo e território se transformam mutuamente quando interagem: um corpo, constituído em coletivo com sua comunidade e espaço compartilhado, fruto de suas experiências e vivências, que à medida que se movimenta, interage e fricciona, agencia seu lugar enquanto território, fundando um chão, fazendo surgir outros mundos possíveis.

Na duração materializada na superfície das imagens se apresentam as performances e ações realizadas nos últimos 10 anos pelo artista Carlos Vera Cruz, são poéticas efêmeras que atuam na (re)construção de um corpo-território sonhado e intuído, mas sobretudo praticado, fruto de memórias e ficções, propostas por ritos e histórias de um sagrado negro, que os processos de dominação colonial nos quiseram fazer esquecer, mas que resistem e são hoje atravessados e atravessam um lugar que nem sempre se sabe: A Amazônia.

Nesse lugar singular, os corpos que o constituem são por ele também constituídos, fazendo emergir uma poética-política em múltiplas linguagens, sobretudo num diálogo entre fotografia e performance, onde vontades, desejos, deslocamentos e lutas são expressas em ações e imagens, não configuradas individualmente, mas na abrangência política, ecológica e social de que se compõe.

Assim o corpo do performer ressurge na imagem fotográfica como o corpo sagrado de um território que não se deixa matar e se apresenta nas narrativas cotidianas e ancestrais, que em suas múltiplas aparições resiste ao gradual desencantamento do mundo e nos permite viver e experimentar arte, apesar do lixo e das ruínas.

Renata Aguiar


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