Imaginário Naïf
No livro “Sete Noites”, o escritor argentino Jorge Luís Borges afirma que o sonho é a mais antiga atividade estética, pois ao contarmos um sonho, estamos criando uma narrativa, já que sonhamos em imagens, não em palavras. Esta maravilhosa ideia nos leva a pensar o sonho como expressão singular oriunda de um repositório infinito de imagens, uma espécie de tesouro imaginário donde evocamos, por vezes inconscientemente, a possibilidade formal de uma materialidade plástica.
Nas crianças, essa possibilidade se manifesta somática e livremente nos desenhos e pinturas, e evolui de acordo com as experiências e aprendizados técnicos aliados às aptidões individuais. Podemos pensar nas imagens que produzimos nesta fase da vida como uma expressão ingênua, espontânea, fluida, que articula as experiências da vida cotidiana àquele tesouro imaginário do inconsciente. O resultado fundamenta uma das escolas artísticas mais difundidas em âmbito popular e folclórico, consagrada a partir do reconhecimento da obra de Henri Rousseau (1844-1910), um pintor autodidata que expôs suas pinturas no Salão dos Independentes de Paris, em 1886: a Arte Naïf (do francês, ingênua).
A presente mostra Imaginário Naïf pretende estabelecer uma perspectiva livre de rigores conceituais entre obras do acervo da Galeria Theodoro Braga e do núcleo de oficinas Curro Velho, pensando seus imaginários a partir das premissas borgianas, isto é, referendando suas gêneses ao vocabulário original dos sonhos, tornados pelas mãos de seus autores em objetos estéticos. Suas narrativas, mais ou menos elaboradas, testemunham e legitimam esse esforço – um esforço lúdico e formal – de tornar palpável a imaginação.
Renato Torres