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 FRAGMENTOS

 Marcelo Lobato nos entrega mais uma faceta do seu eu artista, os vídeos e fotografias que compartilha são parte da sua intimidade de pesquisador, do grande olhador do mundo que é. Passeios pelos rios, registros de embarcações, pedaços de barcos, (mesmo aqueles que para alguns já estejam perdidos), que por algum motivo foram abandonados, despedaçados, consumidos pelo tempo – mangue, areia e maré – para o artista este é apenas o começo do caminho.

Ele não busca a ressignificação do objeto, nem mesmo a sua restauração; há um respeito por aquilo que encontra, um cuidado ao retirar do descanso, letargia, do cansaço. Uma escavação delicada e atenciosa, como são suas pinceladas e traços. O trabalho vai muito além do coletar, resgatar ou registrar os fragmentos de embarcações; investe um novo sopro para seguir em frente, num outro lugar, mas sem esquecer de si. A memória das embarcações permanece inabalada, mantida indestrutível nos fragmentos que se mantêm impetuosos, abundantes, prontos para serem novamente caminho, guia. 

Marcelo observava cada lugar – casca, textura, cor – e nos indica uma retomada de caminho, de construção, ora nos revelando pequenos detalhes que nos fazem querer entrar na obra pra descobrir além, ora numa explosão de linhas, cores e traços que nos fazem distanciar para absorver, induzindo um movimento de vai e vem próprio das marés.

Os objetos, desenhos, pinturas, fotografias, vídeos são postos numa nova paisagem, capturando nosso olhar para outras possibilidades de conexão e encaixe, no ir e vir do tempo cada fragmento tem sua memória, seu lugar, sem deixar de ser barco. 

Eliane Moura

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