ENCANTARIAS DA ILHA
A vida é permeada por imagens que constroem vínculos entre pessoas e lugares, para além de simples produto da percepção são meio pelo qual se pode compreender o mundo e dialogar com ele. Para Hans Belting, a imagem é a apresentação da coisa vista, podendo existir em estado de flutuação entre o físico e o mental. As imagens são assim possibilidades de simbolização individuais e coletivas.
Os vínculos são construídos com o mundo pelas percepções que cada indivíduo subjetiva a partir de lugares e afetos que percorre. No entanto, para criar com a materialidade do mundo é preciso que se exercite a prática de notar, para conhecer a fisionomia e a qualidade das coisas, à imagem em si numa relação de intimidade.
As imagens da exposição coletiva Encantarias da Ilha nos deslocam para uma vinculação com o mundo permeada pelas relações de afeto construídas com as pessoas, lugares e hábitos da Ilha de Maiandeua, onde cinco artistas – Cris Salgado, Flávia Souza, Pierre Azevedo, Roberta Brandão e Uirandê Gomes – constroem um discurso de resistência cultural junto ao Carimbó, às tradições e ao modo de vida dessas comunidades cercadas de mar.
Encantaria é tudo aquilo que é inexplicável, metafísico ou sobrenatural, é o que faz ficar ou voltar a um lugar, a revisitar pessoas e a reviver histórias. É a partir dessa noção mágica e encantada que os artistas fazem uma ode à preservação cultural e ecológica de um lugar rico e multifacetado com cada um dos trabalhos abordando um aspecto da vivência de frequentar a ilha na sua intimidade e peculiaridade, própria da experiência de cada artista.
As fotografias são um convite a também percorrer esta multiplicidade de sentidos, construções poéticas e relacionais que agenciam coletividades e instigam os visitantes a embarcar rumo a uma ilha mágica onde as encantarias (r)existem nas vilas de Algodoal, Fortalezinha, Camboinha e Mocooca.
Renata Aguiar
Exposição contemplada no edital Pauta Livre 2018