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Curro Velho 30 anos

Acervo do Curro Velho

 TEXTO CURATORIAL

“O papel da Cultura é incomensurável. Acho que a batalha cultural é a batalha que não lutamos. E não haverá uma humanidade melhor se não houver transformação cultural. E a Cultura não são quadros pendurados, ou isto que vocês estão fazendo. Cultura é a rotina dos valores com que nos movemos na vida. Isso é parte da construção de uma sociedade melhor.”

Pepe Mujica in “El Pepe, uma vida suprema”, documentário de Emir Kusturica, 2018

Ao longo de quase três décadas, a Fundação Curro Velho (hoje, Núcleo de Oficinas Curro Velho) tornou-se um arcabouço referencial da iniciação artística em nossa cidade, isso desde uma época em que nem se falava nos termos resistência, horizontalidade ou economia criativa com a necessidade e urgência que temos/falamos hoje, nestes tempos de franca oposição do poder público aos mecanismos culturais. 

Sua história é de uma força simbólica impossível de ser ignorada: uma imensa estrutura arquitetônica com influências neoclássicas, antes destinada a ser um matadouro (daí decorre a palavra curro, referente a curral, cercania onde se confina o gado, ou ainda referente a senzalas em algumas regiões brasileiras) torna-se, paradoxalmente, um catalisador de energias criativas, uma incubadora de talentos artísticos, um nascedouro, enfim, para grande parte da classe artística de Belém nas mais diversas linguagens; isso tudo fincado numa região periférica de grande carência social, onde a enorme casa cultural torna-se uma espécie de templo materno das possibilidades de mudança, de crescimento e de melhoria de vida.

Artesania, reciclagem, customização, reaproveitamento são algumas dentre as muitas atitudes efetivas de transformação dos materiais através de oficinas criativas promovidas incansável e quase ininterruptamente pelo Curro Velho ao longo do tempo. Contudo, uma de suas marcas mais conhecidas do grande público veio através do Carnaval:

a Escola de Samba Crias do Curro Velho, cuja trajetória se funde à história da Fundação que a gerou, simbolizando algo como uma apoteose que celebra, a um só tempo, funcionários, oficineiros, alunos, e seus insumos culturais ao encontro da comunidade, do Telégrafo para toda a cidade. Um momento em que o Curro Velho toma as ruas, e diz a que veio nesses 30 anos: uma explosão colorida da imaginação criativa simbolizada pela infância, uma prova viva do que pode uma sociedade colaborativa e participativa. Pode parecer pouco para quem observa de passagem – ou detrás de seu gabinete – mas, para quem teve sua vida transformada por uma instituição dessa natureza, significa muito, ou mesmo quase tudo: um papel incomensurável.

 

Renato Torres

Técnico em Gestão Cultural – GTB/GBN

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