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Travessia Etnopoética

Germana Camorim

TEXTO CURATORIAL

Uma geografia íntima que carrega a subjetividade de uma relação  mnemônica que me constitui e me construiu como artista, como um fôlego que dá vida a esses seres, a essas geografias...", assim Germana Camorim 
se refere à substância que atravessa e dá fôlego às imagens aqui expostas. 

Faturas que sustentam-se num jogo em que a memória é acionada para a construção de paisagens, de um território, de uma geografia. Estar às voltas com um espelho em que o rosto se reconheça. Um rosto marcado pelas travessias. Travessias pelos caminhos das águas. Águas sob o olhar sempre imponente da floresta. 


E a partir do princípio, da natureza que constitui a memória, é preciso jogar o seu jogo, é preciso gravar. Gravar a imagem. Valer-se de luz e sombra. Escrever com a luz, fotografar. Escrever com a linha escura do desenho. Reescrever a paisagem por meio da gravura serigráfica e fazê-la reverberar no jogo claro escuro da imagem gravada sobre a textura do miriti, esse suporte que agora é pele. Pele que se desprendeu da floresta para 
amalgamar-se à imagem e assim, juntas, sugerirem a busca por uma reintegração entre o homem e seu meio.


Essa Travessia Etnopoética é regida, conduzida pela memória. É ela a paisagem que impulsiona a outras paisagens. Motor da travessia. Provoca o deslocamento a partir de um mundo intimamente gravado que procura sobreviver em outros rostos, linhas e contrastes, tudo para manterse viva e necessária. Porém, a memória como deve ser, quando mediada pela linguagem, não um mero lamento, mas uma substância que atualiza-se no agora. Afirmando que não há uma ruptura, uma cisão, mas uma contínua potência que ressoa e reconfigura-se conforme a linguagem aciona seus recursos.


A memória se presentifica. Se atualiza. E simultaneamente já não é mais memória, é paisagem do agora sustentada naquilo que foi. É a vida e seu devir.


Marcílio Caldas Costa

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