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Exposições Conjuntas

Pós Orgânicos - Oxidação

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Pós Orgânicos

Rubens de Andrade

Texto Curatorial

Outros mundos. Mundos que apresentam um devir não muito distante, em que sobreposições abundantes de camadas de cultura já não permitem contatos com quaisquer vestígios de origens. O lócus das imagens da nova série de trabalhos de Rubens Andrade desvia, agora, para uma ambiênciaconstituída por sondagens acerca dessa outra dimensão da cultura atual, permeada por uma imagética misteriosa, resultante de conexões entre o humano e o sobre-humano. Ou seja, o lugar onde o natural e o artificial estão inexoravelmente associados, a atestar a ausência de uma possível crença na pureza de referentes da vida orgânica.

Nas obras de Rubens Andrade essas questões e impasses se colocam de um modo singular. Em meio à superabundância de informações visuais constituídas sobretudo por traços rápidos e esferas luminosas, desvela-se a trama de uma região insondável onde predomina a velocidade dos acontecimentos regidos por abstrações que se avizinham das redes do ciberespaço. Trata-se aqui de tentar dar visibilidade a um mundo invisível, do qual apenas sabemos que existe segundo as regras de sistemas de redes em permanente conexão. 

O modo como essa visibilidade está plasticamente organizada contém uma potência capaz de provocar a sensação de vertigem por meio da articulação de uma espacialidade que, simultaneamente, remete a profundidades assombrosas e, inversamente, delineia um percurso, guiado pela luminosidade dos traços e esferas, que conduz à superfície onde tais elementos espalham-se segundo uma lógica que ainda nos é estranha. E, contudo, essas composições não são puro ruído, mas o esforço de representar artisticamente mudanças de paradigmas provocadas pela lógica da cada vez mais onipresente inteligência destituída de consciência. Semelhante esforço pode ser compreendido como um ato de resistência da consciência que não desiste de “estar no comando”. 

Não à toa, em todos desenhos aqui apresentados, de modo mais ou menos evidente, encontra-se imagens da figura humana. Ao mesmo tempo em que busca integrar-se a esse outro mundo, parecendo ser ela também um cyborg, percebe-se certo mal estar em seu olhar – uma lufada de melancolia? – acrescido das partes de um corpo desagregado, absorvido por uma vida que corre abstrata e independente de si.Permanece então válida a noção de que a arte, ao realizar-se por meio da percepção sensível e do afeto, bem como pelo exercício da razão, pode ser transformadora, atuando no mundo contemporâneo, entre outros, como espaço de reflexão acerca das ações que podem conduzir a um mundo pós-humano.  

Sylvia Ribeiro Coutinho  

Historiadora da Arte 

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Oxidação

Aldones Nino

Texto Curatorial

De que forma uma leitura atenta do cotidiano, realizada através de um exercício do olhar sobre ações espontâneas e inconscientes, é capaz de revelar percursos que de alguma forma encontram-se entrelaçados - difíceis de discernir - e que unem tempos, espaços e memórias na constituição do que somos, como somos e porque somos?

Esse mergulho em nós mesmos pode se dar naturalmente em momentos distintos de nossas vidas. Momentos em que, confrontados pela própria existência, somos apresentados a perspectivas que habitam, moldam e constituem um corpo que sempre esteve presente de forma familiar, mas que nunca antes foi conhecido assim, sozinho. 

A solitude nos faz compreender distâncias, enxergar diferenças, perceber ausências daquilo que um dia esteve perto, dos caminhos que faziam sentido. Ela também nos auxilia a navegar sob um céu sem nuvens, limpo de dúvidas, por entre costuras que amarram o tempo e ancoram memórias. Memórias do tempo presente, memórias antigas de uma história que mesmo corroída resiste. Os trabalhos de Aldones Nino aqui reunidos, tensionam memórias silenciosas e marginais há muito soterradas, que disputam e evidenciam as estruturas daquilo que nos faz ser o que é.

Diante deste contexto de buscas e constantes reconstruções da identidade, atravessam questões acerca das fronteiras e narrativas. Da sobreposição de práticas e imagens ligadas a herança da colônia e do império, maculadas por percepções enraizadas na vida social.

Oxidação, nesse sentido, é aqui entendida como um processo natural e universal de corrosão dos corpos e das formas tradicionais de interação com o mundo. É marca também da passagem irrefreável do tempo, que transforma lentamente a matéria original do prego, da tela, dos livros; em objetos que podem ser lidos e transcritos em versos e mapas que nos revelam mais sobre nós do que sobre eles próprios.

 Guilherme de Paulo Siqueira

Museólogo e Mestrando pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil CPDOC/FGV-RJ